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30 de set. de 2022

Já me doei demais pra essa profissão

Fui chamade para uma fala sobre o livro que organizei em uma biblioteca badalada na região. Vai ter cachê. Preciso MUITO da grana.

Foi o lugar onde mais recebi transfobia, exposição à violência, assédio moral e burnout f00dido em estágios, periferia não entra.

Recusei.

Minha reação na hora ao ouvir meu nome morto no "convite". 

Repassei o convite para pessoas e uma instituição que cuida de pessoas trans, por saber que elus podem fazer um trabalho mil vezes melhor e efetivo.

Por mais que pareceu tentador (E a grana era boa!), infelizmente a minha Ética pessoal martela tanto que não dá pra não desver.

Tenho muito medo de ser chamade para fazer essas falas LGBT+ ou trans em lugares que SEI MUITO BEM que estão usando a gente de token ou querem ser desconstruídos apenas por 1 dia.

Falar em eventos da minha área de atuação (Biblioteconomia) sou que nem diabo foge da cruz. E é ph0da se esconder em cenários assim  porque são lugares que legitimamente eu deveria estar ocupando. Mas isso custa caro: a minha sanidade não tolera mais esses bagulhos jogados pelos transfóbicos daqui. Eu não tenho forças.

Sei que outras pessoas tem e agradeço.

Já recusei convite de um bocado de lugar pra "fazer videozinho", "uma fala pequena", "divulgar seu livro", porque o buraco é sempre mais embaixo. Não vejo a minha profissão mudando o status quo quanto a pessoas trans e as travestis. Não vejo sinceridade nos atos.

"Ain, mas você é branque e tem privilégios nesses espaços." - sim, mas não uso privilégio em lugares onde sei bem que vão me sufocar no 1º momento que me sobressair. Been there, done that, movimento estudantil foi uma longa escola sobre onde depositar forças sobre uma pauta.

Bibliotecas não respeitam vidas trans, vidas negras, vidas indígenas e vidas de pessoas com deficiência, é fato. Pessoas cis que trabalham em bibliotecas nos querem LONGE delas e colocam barreiras de muitas formas, não só em preconceito velado.

É militar armado na porta barrando entrada.
É sem rampa de acesso ou elevador.
É catraca na porta pra controlar corpos.
É chamar pelo nome morto e pelo pronome errado.
É perseguição dentro da biblioteca com "medo de roubar livro".
É se recusar atender, porque "não sabe atender gente desse jeito".

Enquanto tiver gente da minha laia (bibliotecária) votando em projeto genocida, sendo reaça, fascista e branco cis mediano medíocre, a Biblioteconomia VAI continuar do mesmo jeito: sendo cães de guarda pro CIStema manejar bem os corpos indesejáveis.

Enquanto tiver profissional "isentão" de todo processo histórico de exclusão, invisibilização e chacina de corpos não-padrão e indesejáveis na sociedade, vai continuar tendo biblioteca elitista e branca.

A gente tem que se empoderar e tomar o lugar?
Não sei.
Arranjar emprego em uma fica cada vez mais difícil. Permanecer em uma mais ainda.

Passar o resto da minha vida profissional tendo que corrigir coleguinha transfóbico não é o que eu almejo como pessoa bibliotecária. Socar um nariz ou jogar um molotov, talvez.

E odeio a minha Ética pessoal e tudo que vem junto com ela. Eu poderia ter pego esse maldito evento, ganhado uma graninha pra pagar as coisas e ir deitar no travesseiro à noite me sentindo realizade.

Mas

Não

Tem coisa que tem limite.
Já me doei demais pra essa profissão.

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