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3 de set. de 2020

a ideia inspiradora, a missão e a obrigação

[DISCLAIMER: Cuidado que é alerta textão!!]


Há ideias que reverberam na gente e se tornam algo palpável quando se está no caminho certo (E fazendo o certo para algo bacana, sério e benéfico pro mundo).

Esse projeto aí abaixo é o que estou organizando com um pessoal muito incrível que acabei encontrando por aqui nos Facebook da vida e a partir dele (a ideia inspiradora veio do trabalho magnífica da Franciéle Garcês no Selo Nyota) está sendo uma caminhada loooooonga e com muitas paradas para me re-conhecer.

TL;DR.



(Debaixo do link tem mais sobre esse projeto que estou envolvida!)

Porque a autossabotagem aqui é periódica e costuma vir tagarelar de um modo que eu não seja capaz de produzir alguma coisa a não ser fragmentos de coisas caóticas e sem conexão alguma (É de propósito, algo me diz que essa metodologia randômica é a forma exata que devo usar daqui pra frente como ser acadêmico) - e eis que ao me empenhar nessa tarefa de organizar esse e-book, possível livro, muitos pontinhos da minha lista de missão de bibliotecárien vão ser resolvidos.

Um deles parece bem egocêntrico, mas é ver minha comunidade nas estantes de muitas bibliotecas desse país. Eu preciso ver pessoas não-bináries nas prateleiras, na escolha de acervos, nas mãos de outras pessoas NB como eu e talvez elas terem aquela sensação de "caraaaaaaca, olha eu tenho um livro sobre a minha vivência na prateleira dessa biblioteca!!" - representatividade pra mim é isso, estar presente em um acervo de uma biblioteca pública ou escolar, com acesso para todes sem restrição.

Parece exagero?
Se por acaso se eu te pedir para verificar suas memórias de criança e adolescente, talvez os livros que você pegou/leu te deixaram confortável por se ver representado ali. 
Para muitas pessoas não. Para a comunidade trans menos ainda. Para pessoas não-bináries? A gente nem existe aos olhos de muitos dentro do Vale Coloridinho.

O outro pontinho da lista era aprender mais com meus pares, colegues de comunidade, com amigues que esse projeto me trouxe. E como estou aprendendo!! E cada pontinho de XP ganho tou levando para a vida como algo tão precioso para me entender e entender as pessoas com quem tenho contato todos os dias. Mais outro objetivo na missão de bibliotecárien, mais uns pontinhos de sanidade recuperados.

Alguém me fez uma pergunta essa semana que me pegou de surpresa, mas que não me assustou por saber o quanto o ambiente acadêmico é hostil com pessoas que não seguem a (cis)norma. Fui questionada do porquê estar organizando esse projeto, "qual o propósito" (Dominação mundial, vocês não irão saber, lalalalalalala), o porquê doar meu tempo, meus neurônios e minha grana nesse trem.

A primeira coisa que passou na minha cabeça foi isso: missão de bibliotecárien (E se você já leu aquele texto fabuloso do Ortega y Gasset de 1967, você vai entender por onde se passa essa missão) - é minha obrigação como profissional de biblioteca a buscar formas de democratização de leituras. É pelas políticas de desenvolvimento de coleção? É pelas doações? Pelas iniciativas de investimento em acervo? É organizando um livro que junte pessoas não-bináries escrevendo sobre suas produções acadêmicas? 
Principalmente é minha obrigação, eu não faço mais do que ela ao entrar nesse projeto.

Porque no mundo ideal haveria livros e mais livros em idioma nosso (a tal da lingua portuguesa e nas línguas indígenas e em braille e em libras também) sobre pessoas não-bináries, e sobre a população trans, e sobre as travestis, e a história do movimento TLGBQIAP+ no Brasil e mais informações em bibliotecas e escolas sobre pessoas intersexo, identidades de gênero, educação sexual, teoria queer, livros infantis sobre toda essa gama de assuntos, livros informativos e de aventura para adolescentes com protagonistas representando o Vale Coloridinho, haveria panfletos e banners e livros didáticos, audiobooks, e outros recursos informacionais de graça para as pessoas se informarem com mais facilidade e acessível para todes. 

No meu mundinho ideal eu não precisaria ter que vencer a minha autossabotagem, meu medo irracional pela falha eterna, meu desconhecimento sobre o movimento e fazer um edital de chamada de capítulos sobre a minha comunidade, eu não precisaria - simplesmente existiriam publicações sobre.

Mas como o mundo real é um porre e horroroso no tratar as pessoas fora da (cis)norma padrãozinha mequetrefe, cá estou eu fazendo a missão de bibliotecárien, a minha obrigação como quem pegou aquele diploma e prometeu servir à todes da sociedade. Sem exceção.

Essa é a minha razão maior de estar nesse projeto: minha obrigação nessa missão. Por ser não-binárie e por ser bibliotecárien (quase, falta o registro profissional, calma!).

Adoraria que a maioria de meus colegas de trabalho cisgêneres também abraçassem essa forma de verem a nossa missão como algo que beneficiasse a quebra de tabus e preconceitos contra as pessoas TLGBQIAP+, independente de raça, credo, religião e time de futebol, seria legal se vocês se envolvessem mais nessas empreitadas, mas estaria pedindo demais. 

A galera foi e é domesticada para confundir a missão da profissão com ganhos financeiros, status acadêmico, estrelinha da Scopus e mais linhas gloriosas no Lattes. sair da bolha acadêmica seria um passo, aliás.

A missão deveria estar acima de qualquer dessas coisas supérfluas.
Estou fazendo a minha obrigação e me sentindo muito bem com isso, afinal, ao finalizar esse projeto na materialidade (pelo e-book ou o livro físico), eu sei que o objetivo número 1 de ter livros em acervos de bibliotecas representando a minha comunidade transgênere não-binárie será realizado, o que vier após isso é benefício pra sociedade e apenas para ela. 

Era esse o plano maligno maior que queria compartilhar com vocês, tá indo conforme tá dando :)

Quem quiser saber mais informações, dá uma olhada aí embaixo ou manda inbox. Ajuda, conselhos profissionais, aceito de muito bom grado!

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